sexta-feira, 4 de junho de 2010

Estranha História de Nós Dois

Quanto mais fundo entro no meu caos,
melhor, muito melhor me oriento,
lá estás, como um universo vivo,
vagando pelas linhas do meu pensamento.
Devemos nos redimir, fomos maus!
Parceiros de tudo o que não era percebido,
tu, atrás de uma muralha,
eu, aventureira,
querendo desbravar o teu desconhecido.
Nem mesmo o Pai Eterno nos salvou daquele inferno!
Queimamos juntos, pois já que a fogueira
foi acesa por nós dois, de brincadeira.
E mesmo que depois tenha vindo a saideira,
muitas águas rolaram debaixo daquela ponte...
E nem me dei conta da enxurrada,
eu própria estava lá e vi,
se tu morreste afogado, eu com certeza não sobrevivi.
Ainda que no sono da morte
a tua sede eu aplaquei na minha fonte,
teu abandono eu bracei mais forte,
pois ele não tinha dona, bem sei.
Na nossa cama com o teu cheiro eu deitei,
teu travesseiro me abrigou naquela noite
depois que o vento te levou para tão longe...
Ninguém te disse o quanto eu chorei?
Então, quando de ti eu precisei, faltaste
e perguntei por que me abandonaste
se aqui nesta morada sempre foi o teu lugar?
E a tua voz de novo me negaste,
somente o teu silêncio
pude ouvir na madrugada, exausta, cansada,
e de tanto lamentar, adormeci ali sozinha...
Pela janela aberta se refletia, no mesmo céu que te cobria,
a noite em despedida abraçando um novo dia.


Texto publicado em 2001 - participou da Mostra de Arte da Caixa Federal  em Santa Catarina
direitos reservados - Liane Flores - Ed. Movimento

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