quarta-feira, 2 de junho de 2010

MEUS DEUSES PARTICULARES - reflexões fantásticas

TALVEZ ESTEJAMOS TODOS MORTOS, QUEM SABERÁ?
E já faz um tempo enorme que eu não consigo distinguir o sonho da realidade, pedindo sempre piedade aos pesadelos elementares, desses que incluem toda sorte de injustiças, violências, imparcialidades.
SERÁ QUE É O SONHO QUE ME SONHA?


Nesta minha vida mergulhada em literatura decidi me trancar dentro da alma, engolindo chaves, quebrando trancas, deixando as notícias se acumularem com jornais e revistas jogadas pelos cantos, intactas. Mergulho na ignorância dos acontecimentos sobre tudo, deixo tudo sem registro, pessoas, lugares... simplesmente abstraio.
O mundo por todos esses anos absorveu-me como uma gosma pegajosa, engoliu os meus castelos encantados, meus príncipes cavaleiros, meus lindos contos de fadas.
Quero agora enganar o destino tão previsível, discordar de tudo o que foi escrito no livro da minha vida, apagar página por página, até a folha vinte mil, seiscentos e quarenta e cinco.
Vou reescrever tudo outra vez no tempo da prorrogação.
Quero ouvir o silêncio das paredes, sua respiração dura de concreto, decifrar nas linhas de suas rachaduras iguais as minhas, qual será o fim desta jornada.
Preciso engolir os meus erros e enganos como engulo o pão nosso de cada dia, em seco, arranhando a garganta na passagem e quero nesta viagem encontrar uma saída, ver a luz no fim do túnel antes do trem me pegar.
Talvez eu entenda de uma vez por todas como entrei neste conflito de conduta, nesta vidinha filha-da-puta, carregando mais peso do que preciso, me libertar e deixar voar a minha alma de algodão.
Se vou enlouquecer? Sim com certeza!
Quero muita insanidade para poder nas tardes de inverno fugir deste inferno que acendi e deixar o ar gelado condensar as dores do meu peito para depois quebrá-las, uma por uma.
Cada caco que restar será um presságio lúdico do meu novo destino, como um quebra-cabeças encantado.
Preciso conhecer o mundo secreto governado pela magia das bruxas, dos duendes, dos faunos, dos unicórnios e de todo o ser que voa.
Tantos segredos nos meus caminhos, tão poucas asas, tantos novelos nos meus enredos, tão poucas cores, tantas novelas com muitas páginas já amarelas.
Nã quero por convivência transformar-me num micróbio contagioso, esculpir a cara com as  rugas nojentas da ambição, construir barreiras nos sentimentos, acorrentar o corpo com limites nos pontos e extremidades.
Por que sabotar a vida aceitando portas, sapatos, botões, trancas, vendas,  relógios barras de jaula, prisões, porradas?`
Preciso correr o risco e não deixar tocar em mim o mal suficiente que mora nos desejos desmedidos de consumo, da vaidade, da inveja, no monte absurdo de conhecimento e experiências acumuladas, sobre tudo, sobre nada e sobretudo quero cantar com sapos, navegar nas nuvens, acender estrelas e tocá-las, cavalgar a lua, vestir-me de corais e ter a única e imponderável certeza, que tudo isto existe e são os meus deuses particulares.


 Direitos Reservados da autora: Do livro Para um homem chamado Silêncio - Liane Flores - 2003 -                                       

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