quarta-feira, 2 de junho de 2010

Meu Oráculo ( Para João Gallego)

Lembro quando o vi pela primeira vez. Amigável, sorridente, enquanto eu desconfiada me perguntava o quanto queria estar à mercê daquele estranho que, fatalmente, iria invadir as minhas histórias mais secretas, mais doloridas, aquelas que nunca contei a ninguém, nunca escrevi.
Não sou tímida, longe, longe disto, mas confesso que fiquei intimidada com a simples perspectiva de abrir minhas gavetas secretas e baús de cadeados enferrujados, mostrando a ele sem pudor os ossos que quebrei pelos caminhos que percorri e os mortos que nunca consegui enterrar.
Aos poucos porém fui entregando-me ao som suave daquela voz e tempos depois, quando dei por mim, contava os dias e as horas que faltavam para encontrá-lo e desnudar a alma.
Um dia, nun insigth percebi que ele se transformara no meu Oráculo e mesmo sem a sua presença física e o invocava nas horas mais prosaicas. Conversava com ele mentalmente, trocava idéias.
Levou um tempo enorme para que eu aceitasse a sua humanidade, talvez porque nele eu encontrasse o reflexo de tudo o que me era significativamente importante: cultura, serenidade, despojamento, simplicidade, empatia. Ele tinha um profundo interesse espiritual pela alma humana, trilhava caminhos alternativos da ciência, das crenças.
Um dia, anos depois, era como se ele fosse um outro eu.



direitos reservados Liane Flores - Ed. Movimento - texto/2004

E o galo já cantou!

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